Depois de discorrer sobre a criatividade, ousadia e capacidade de organização demonstradas pelos protestos de Hong Kong e mesmo reconhecer determinadas contradições dentro do movimento, a autora afirma:
"Na atual conjuntura, não acredito que o movimento, com todas suas contradições, penderá para a extrema direita imperialista."
Depois reafirma sua confiança citando as palavras que colheu de uma ativista de Hong Kong:
"nós, os que acreditam na democracia radical, justiça social no processo de autodeterminação de Hong Kong, somos a vasta maioria."
Há uma ingenuidade que a autora compartilha com "democratas" e "socialistas" de Hong Kong e que me lembra muito o documento "O Socialismo Petista", de 1990, no qual se afirmava sobre a Polônia:
"O PT foi o primeiro partido político brasileiro a apoiar a luta democrática do Solidariedade polonês, mesmo sem outras afinidades ideológicas. Temos combatido os atentados à liberdade sindical, partidária, religiosa etc. nos países do chamado socialismo real com a mesma motivação com que lutamos pelas liberdades públicas no Brasil. Denunciamos com idêntica indignação o assassinato premeditado de centenas de trabalhadores rurais no Brasil e os crimes contra a humanidade cometidos em Bucareste ou na Praça da Paz Celestial. O socialismo, para o PT, ou será radicalmente democrático ou não será socialismo. Os movimentos que conduziram às reformas no Leste Europeu voltaram-se justamente contra o totalitarismo e a estagnação econômica, visando institucionalizar regimes democráticos e subverter a gestão burocrática e ultracentralizada da economia. O desfecho desse processo está em aberto e será a própria disputa política e social a definir os seus contornos. Mas o PT está convencido de que as mudanças ocorridas e ainda em curso nos países do chamado socialismo real têm um sentido histórico positivo, ainda que o processo esteja sendo hegemonizado por correntes reacionárias, favoráveis à regressão capitalista. Tais movimentos devem ser valorizados, não porque representem em si um projeto renovador de socialismo, mas porque rompem com a paralisia política, recolocam em cena aberta os diversos agentes políticos e sociais, impulsionaram conquistas democráticas e, em perspectiva, podem abrir novas possibilidades para o socialismo. A energia política liberada por tamanha mobilização social não será facilmente domesticada pelo receituário do FMI ou pelos paraísos abstratos da propaganda capitalista." ( https://www.enfpt.org.br/acervo/documentos-do-pt/encontros-nacionais/1990/O-socialismo-petista.pdf )
17 anos depois o PT reconheceria em novo documento com o mesmo título, "O Socialismo Petista", de 2007:
"A partir da Polônia iniciava-se um movimento de contestação do socialismo burocrático, que se estenderia a todos os países da Europa do Leste, atingindo mais tarde a própria União Soviética. As chamadas "revoluções de veludo" no leste europeu e a posterior dissolução da URSS, não propiciarem uma renovação democrática do socialismo, serviram de base para instauração de um capitalismo selvagem que atacou duramente as conquistas sociais que os trabalhadores haviam anteriormente obtido naqueles países" ( https://fpabramo.org.br/csbh/wp-content/uploads/sites/3/2018/05/3-Congresso-nacional_Socialismo-Petista.pdf ).
E no entanto, mesmo constatando o quanto errou em sua aposta e o quão foram desastrosas as consequências trazidas pelo sucesso do movimento apoiado por eles na década anterior, o PT nada fez para impedir que o imperialismo coordenasse junto a agentes do Estado brasileiro investigações conduzidas de forma lesiva ao interesse nacional, que organizassem movimentos biônicos (MBL, Vem Pra Rua, etc.) e "think tanks" capazes de altos investimentos em difusão de informações falsas, desestabilizando a política e a economia do país e abrindo caminho para o ultra-liberalismo com feições fascistas que nos governa hoje.
Não se pode nunca subestimar a capacidade de o imperialismo atingir seus objetivos, muito menos quando para isto se conta com a espontaneidade de movimentos sociais sob influência de forças políticas obscuras financiadas a partir do exterior.
Temos muito mais a aprender com o Partido Comunista da China do que com o quarto da população que está nas ruas de Hong Kong. Afinal, a China sobreviveu à dissolução do socialismo no Leste Europeu e à avalanche neoliberal dos anos 1990, segue firme e forte na condução de seu Projeto Nacional de Desenvolvimento, construindo um socialismo autêntico, com características chinesas.
Os jovens de Hong Kong não contariam com tanta força nas ruas e simpatia internacional se determinadas organizações que operam nas redes sociais e na imprensa não estivessem obtendo financiamento externo. Mas quanto mais leio sobre as inconsistências e contradições dos que protestam em Hong Kong, mais tenho confiança de que a China vencerá mais uma vez, garantindo a integralidade de seu território e a soberania nacional. Infelizmente não tenho a mesma confiança no Brasil, dada a ingenuidade de nossa esquerda. Uma esquerda que se espelha nos "autonomistas" de Hong Kong sob influência direta do imperialismo norte-americano será incapaz de reverter nosso atual estado de coisas.
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