sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Paul Robeson: "onde quer que eu tenha estado no mundo (...) os primeiros a morrer na luta contra o fascismo foram os comunistas"

Trechos do depoimento de Paul Robeson ao Comitê de Atividades Anti-Americanas da Câmara dos EUA em 1956. Paul Robeson foi jogador de futebol americano, graduado em Direito na Universidade Columbia, ator, cantor, militante anti-imperialista, pela paz, pelos direitos dos negros e pela libertação dos povos colonais. Teve seu passaporte revogado por anos em função da perseguição sofrida na "democracia" norte-americana.


O que você quer dizer com Partido Comunista? Pelo que eu sei, é um partido legal como o Partido Republicano e o Partido Democrata. Você quer dizer um grupo de pessoas que se sacrificaram pelo meu povo e por todos os americanos e trabalhadores, para que possam viver com dignidade? Você quer dizer aquele partido?

(...)

Senhores, em primeiro lugar, onde quer que eu tenha estado no mundo, Escandinávia, Inglaterra e muitos lugares, os primeiros a morrer na luta contra o fascismo foram os comunistas e eu coloquei muitas coroas sobre os túmulos dos comunistas.

(...)

Eu poderia dizer que a razão de eu estar aqui hoje, você sabe, da boca do próprio Departamento de Estado, é: eu não deveria ter permissão para viajar porque lutei durante anos pela independência dos povos coloniais da África. Por muitos anos trabalhei muito e posso dizer modestamente que meu nome é muito honrado em toda a África, em minhas lutas por sua independência. Esse é o tipo de independência que Sukarno obteve na Indonésia. A menos que estejamos falando ambiguamente, esses esforços no interesse da África estariam no mesmo contexto. A outra razão pela qual estou aqui hoje, novamente do Departamento de Estado e dos autos do tribunal de apelações, é que, quando estou no exterior, falo contra as injustiças contra o povo negro desta terra. Enviei uma mensagem para a Conferência de Bandung e assim por diante. É por isso que estou aqui. Esta é a base, e não estou sendo julgado por ser comunista, estou sendo julgado por lutar pelos direitos do meu povo, que ainda são cidadãos de segunda classe nestes Estados Unidos da América. Minha mãe nasceu em seu estado, Sr. Walter, e minha mãe era uma quaker, e meus ancestrais na época de Washington assaram pão para as tropas de George Washington quando eles cruzaram o Delaware, e meu próprio pai era um escravo. Estou aqui lutando pelos direitos do meu povo de serem cidadãos plenos neste país. E eles não são. Eles não são no Mississippi. E eles não são em Montgomery, Alabama. E eles não são em Washington. Eles não são em lugar nenhum, e é por isso que estou aqui hoje. Você quer calar a boca de todo negro que tem coragem de se levantar e lutar pelos direitos de seu povo, pelos direitos dos trabalhadores, e eu também estive em muitos piquetes pelos metalúrgicos. E é por isso que estou aqui hoje. . . .

(...)

Na Rússia, pela primeira vez me senti um ser humano completo. Nenhum preconceito de cor como no Mississippi, nenhum preconceito de cor como em Washington. Foi a primeira vez que me senti um ser humano. Onde não senti a pressão da cor como a sinto hoje neste Comitê.


Por que você não fica na Rússia?

Porque meu pai era escravo, e meu povo morreu para construir este país, e eu vou ficar aqui e ter uma parte dele como você. E não tem gente de mente fascista que vai me afastar disso. Está claro? Eu sou a favor da paz com a União Soviética, e eu sou a favor da paz com a China, e não sou a favor da paz ou da amizade com o fascista Franco, e não sou a favor da paz com os fascistas alemães nazistas. Eu defendo a paz com pessoas decentes.

Você está aqui porque está promovendo a causa comunista.

Estou aqui porque me oponho à causa neofascista que vejo surgir nestes comitês. (...)


Fonte: http://historymatters.gmu.edu/d/6440/

 

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sábado, 18 de julho de 2020

Lennon, Losurdo e a burocracia



Em alguns momentos dessa entrevista de janeiro de 1971 ao jornal trotskista "The Red Mole", o artista John Lennon se demonstrou mais materialista que os 'marxistas' que o entrevistaram:
JOHN LENNON: "Depois da revolução, você tem o problema de manter as coisas funcionando, de classificar todas as diferentes visões. É bastante natural que os revolucionários tenham soluções diferentes, que se dividam em grupos diferentes e depois reformem, essa é a dialética." - mas, ao mesmo tempo, precisam estar unidos contra o inimigo, para solidificar uma nova ordem. Não sei qual é a resposta; obviamente, Mao está ciente desse problema e mantém a bola em movimento ".

BLACKBURN:
"O perigo é que uma vez criado um estado revolucionário, uma nova burocracia conservadora tende a se formar ao seu redor. Esse perigo tende a aumentar se a revolução for isolada pelo imperialismo e houver escassez material".
 

JOHN LENNON: "Uma vez que o novo poder tenha assumido o controle, eles precisam estabelecer um novo status quo apenas para manter as fábricas e os trens funcionando".
 

BLACKBURN: "Sim, mas uma burocracia repressiva não necessariamente administra as fábricas ou trens melhor do que os trabalhadores poderiam sob um sistema de democracia revolucionária".
JOHN LENNON: "Sim, mas todos temos instintos burgueses dentro de nós, todos nos cansamos e sentimos a necessidade de relaxar um pouco. Como você mantém tudo funcionando e mantém o fervor revolucionário depois de alcançar o que se propunha a alcançar? É claro que Mao os manteve na China, mas o que acontece depois de Mao? Ele também usa um culto à personalidade. Talvez seja necessário; como eu disse, todo mundo parece precisar de uma figura paterna.
Curiosamente, a reflexão que John Lennon propõe a essa época, no trecho citado acima, muito se aproxima do que disse 9 meses antes de falecer o filósofo marxista italiano Domenico Losurdo, em debate sobre "A vida de Trotsky" organizado pela Editora Boitempo por ocasião do centenário da Revolução Russa. Vale a pena assistir na íntegra, mas destaco abaixo a parte a que me refiro (a partir da 1 hora, 13 minutos e 27 segundos do vídeo publicado no YouTube):



terça-feira, 27 de agosto de 2019

Deveríamos buscar lições com a China sobre a defesa da soberania nacional

Me decepciona a publicação pelo Intercept Brasil do artigo "As lições para o Brasil dos protestos de Hong Kong" ( https://theintercept.com/2019/08/19/revolta-do-guarda-chuva-hong-kong-protestos-china/ ), de Rosana Pinheiro-Machado. Um portal que tem se destacado por grandes contribuições ao jornalismo investigativo, revelando através de informações vazadas como agentes do Estado brasileiro agiram contra a Constituição, as leis e o desenvolvimento nacional, coloca em segundo plano as articulações do imperialismo norte-americano com os protestos de Hong Kong, que podem ser demonstradas citando documentos e fatos públicos, como fez Godfree Roberts no brilhante artigo "O cálice envenenado de Hong Kong: Quando civilizações se chocam" ( https://revistaopera.com.br/2019/08/05/o-calice-envenenado-de-hong-kong-quando-civilizacoes-se-chocam/ ).

Depois de discorrer sobre a criatividade, ousadia e capacidade de organização demonstradas pelos protestos de Hong Kong e mesmo reconhecer determinadas contradições dentro do movimento, a autora afirma:

"Na atual conjuntura, não acredito que o movimento, com todas suas contradições, penderá para a extrema direita imperialista."

Depois reafirma sua confiança citando as palavras que colheu de uma ativista de Hong Kong:

"nós, os que acreditam na democracia radical, justiça social no processo de autodeterminação de Hong Kong, somos a vasta maioria."

Há uma ingenuidade que a autora compartilha com "democratas" e "socialistas" de Hong Kong e que me lembra muito o documento "O Socialismo Petista", de 1990, no qual se afirmava sobre a Polônia: 

"O PT foi o primeiro  partido político brasileiro a apoiar a luta democrática do Solidariedade polonês, mesmo sem outras afinidades ideológicas.  Temos combatido os  atentados  à liberdade sindical, partidária, religiosa etc. nos países do chamado socialismo  real com a mesma  motivação com que lutamos pelas liberdades públicas no Brasil.  Denunciamos com idêntica indignação o assassinato premeditado de centenas de trabalhadores rurais  no Brasil e os crimes contra a humanidade cometidos em Bucareste ou na Praça da Paz Celestial. O socialismo, para o PT, ou será radicalmente democrático ou não será socialismo. Os movimentos que conduziram às reformas no Leste Europeu voltaram-se justamente contra o totalitarismo e a estagnação econômica, visando institucionalizar regimes democráticos e subverter a gestão burocrática e ultracentralizada da economia.  O desfecho desse processo está  em aberto e será a própria disputa política e social a definir os seus  contornos. Mas o PT  está convencido de que as mudanças ocorridas e ainda em curso nos países do chamado socialismo real têm um sentido histórico positivo, ainda que o processo esteja sendo hegemonizado por correntes reacionárias, favoráveis à regressão capitalista.  Tais movimentos devem ser valorizados, não porque representem em si um projeto renovador de socialismo, mas porque rompem com a paralisia política, recolocam em cena aberta os diversos agentes políticos e sociais, impulsionaram conquistas democráticas e, em perspectiva, podem abrir novas possibilidades para o socialismo. A energia  política liberada por  tamanha mobilização  social não será facilmente domesticada pelo receituário  do FMI ou pelos  paraísos abstratos da propaganda capitalista." ( https://www.enfpt.org.br/acervo/documentos-do-pt/encontros-nacionais/1990/O-socialismo-petista.pdf )

17 anos depois o PT reconheceria em novo documento com o mesmo título, "O Socialismo Petista", de 2007:

"A   partir   da   Polônia   iniciava-se   um   movimento  de contestação do socialismo burocrático, que se estenderia a todos os países   da   Europa   do   Leste,   atingindo   mais   tarde   a   própria   União Soviética. As chamadas "revoluções de veludo" no leste europeu e a posterior   dissolução   da   URSS,   não   propiciarem   uma   renovação democrática do socialismo, serviram de base para instauração de um   capitalismo   selvagem   que   atacou   duramente   as   conquistas sociais que os trabalhadores haviam anteriormente obtido naqueles países" ( https://fpabramo.org.br/csbh/wp-content/uploads/sites/3/2018/05/3-Congresso-nacional_Socialismo-Petista.pdf ).

E no entanto, mesmo constatando o quanto errou em sua aposta e o quão foram desastrosas as consequências trazidas pelo sucesso do movimento apoiado por eles na década anterior, o PT nada fez para impedir que o imperialismo coordenasse junto a agentes do Estado brasileiro investigações conduzidas de forma lesiva ao interesse nacional, que organizassem movimentos biônicos (MBL, Vem Pra Rua, etc.) e "think tanks" capazes de altos investimentos em difusão de informações falsas, desestabilizando a política e a economia do país e abrindo caminho para o ultra-liberalismo com feições fascistas que nos governa hoje.

Não se pode nunca subestimar a capacidade de o imperialismo atingir seus objetivos, muito menos quando para isto se conta com a espontaneidade de movimentos sociais sob influência de forças políticas obscuras financiadas a partir do exterior.

Temos muito mais a aprender com o Partido Comunista da China do que com o quarto da população que está nas ruas de Hong Kong. Afinal, a China sobreviveu à dissolução do socialismo no Leste Europeu e à avalanche neoliberal dos anos 1990, segue firme e forte na condução de seu Projeto Nacional de Desenvolvimento, construindo um socialismo autêntico, com características chinesas.

Os jovens de Hong Kong não contariam com tanta força nas ruas e simpatia internacional se determinadas organizações que operam nas redes sociais e na imprensa não estivessem obtendo financiamento externo. Mas quanto mais leio sobre as inconsistências e contradições dos que protestam em Hong Kong, mais tenho confiança de que a China vencerá mais uma vez, garantindo a integralidade de seu território e a soberania nacional. Infelizmente não tenho a mesma confiança no Brasil, dada a ingenuidade de nossa esquerda. Uma esquerda que se espelha nos "autonomistas" de Hong Kong sob influência direta do imperialismo norte-americano será incapaz de reverter nosso atual estado de coisas.


domingo, 24 de fevereiro de 2019

A desonesta equiparação entre Marighela e a Ditadura


Para quem tenta colocar um sinal de igualdade entre a Ditadura Militar e as guerrilhas que a combateram, vejam o depoimento dado por Charles Elbrick, o embaixador dos EUA sequestrado pelos grupos MR8 e ALN (sendo esta a organização liderada por Marighella):

"Bom, daquele momento em diante eu fui tratado muito bem, devo dizer, que se um dia eu for sequestrado ou colocado na prisão, eu gostaria de ser tratado da maneira que eu fui tratado dali em diante. No dia seguinte eles foram muito agradáveis, atenciosos, eles tentaram fazer o que podiam para ver se eu estava confortável. Não era muito, mas eles tinham recursos limitados eu suponho."



Ele também relatou que recebeu revistas antigas e um livro em inglês sobre Ho Chi Min para ler, além de ter seu estoque de cigarrilhas sempre reposto e ter sido alimentado. Segundo Elbrick, a comida não era muito boa, mas os guerrilheiros se desculparam por não serem bons cozinheiros.

Quantos sindicalistas, estudantes, inclusive jovens mulheres, mães, foram submetidos às mais bárbaras torturas e estupros, muitas vezes até a morte e com ocultação de cadáveres? Por vezes as torturas envolviam crianças, como demonstram as reportagens de Luiz Carlos Azenha ( https://www.viomundo.com.br/denuncias/criancas-na-ditadura-militar-tortura-exilio-e-clandestinidade.html )

Colocar um sinal de igualdade entre os torturadores covardes e aqueles que arriscavam as vidas para pôr fim àquele regime odioso é um ato de má-fé.

O depoimento completo (em inglês) do embaixador pode ser lido no endereço http://media.folha.uol.com.br/agora/2015/07/09/document2015-07-08-193026.pdf

As estrelas no capitalismo

Toda vez que assisto a documentários e cinebiografias de intérpretes e músicos cujas obras alcançaram enorme sucesso comercial enquanto eram vivos e acabaram morrendo tragicamente, muitas vezes ainda jovens, fico pensando no quão pouco se questiona o quanto a indústria fonográfica e a mídia como um todo contribuíram para a tragédia. Penso que isso ocorre em parte porque esses documentários e cinebiografias, ao relançarem as obras póstumas, perpetuam não só a arte, mas o lucro das corporações que detêm direitos sobre ela.



Quando estão em ascensão, vende-se uma imagem gloriosa dessas estrelas, expõem-se a intimidade delas para o mundo, viram capas de revistas, fazem ensaios, filmes, dão entrevistas aos montes e participam de turnês exaustivas que acabam com a sanidade física e mental delas. Movimenta-se uma quantia enorme de dinheiro.

As relações pessoais desses artistas geralmente são muito afetadas por tudo isto, alguns familiares em que se confiava se revelam verdadeiros oportunistas, o tempo com filhos é comprometido pela agenda intensa de shows, etc.

Quando tudo isso se torna insustentável física e psicologicamente e as estrelas começam a entrar em depressão, a abusar do uso de álcool e outras drogas, etc. a industria fonográfica segue exigindo o sangue delas para o cumprimento de contratos e execução de shows - se não o fizerem têm que pagar multas e se contentarem com o que recebem por direito autoral, uma fração pequena frente ao que fica para as gravadoras. A mesma mídia que antes vendia uma imagem gloriosa dessas estrelas passa a vender a imagem de sua destruição. O foco passa a ser explorar os aspectos mais tristes, doentios e escandalosos do que se passa na vida pessoal da estrela, que há muito já não tem direito a privacidade.

Tudo isso me faz pensar também no velho argumento liberal de que é uma grande vantagem do capitalismo a possibilidade da ascensão social pelo esforço e pela manifestação dos diferentes talentos. Mas será que é preciso se chegar a tanto? Será que tanto dinheiro tem que ser movimentado em torno da ultra-exploração da imagem desses artistas, que muitas vezes começam muito jovens, adolescentes, crianças, a lidarem com esse mundo? Não seria melhor uma sociedade na qual os talentos pudessem se desenvolver e se projetar num ambiente mais saudável, valorizando-se o trabalho do artista sem precisar submetê-lo a tanta exposição?

E enquanto essas estrelas têm suas vidas consumidas de forma tão intensa, quantos outros milhares de artistas lutam para ter a possibilidade de viver de sua arte mas não encontram espaço?

Questionamentos semelhantes podem ser feitos  sobre expoentes de outras áreas, como o esporte e o cinema.

quinta-feira, 5 de abril de 2018

Sobre os fundamentos jurídicos das condenações ao PT



Desde a Ação Penal 470 (vulgo Mensalão), quando Rosa Weber (assessorada por Sérgio Moro) admitiu que estava condenando José Dirceu sem provas, porque a literatura jurídica a permitia; passando pelo impeachment de Dilma, em que senadores a depuseram por um suposto crime, mas não cassaram seus direitos políticos, por ela não ter cometido crime algum; até a negação do Habeas Corpus a Lula, em julgamento no qual um "sentimento social" foi invocado por Luís Roberto Barroso; uma característica peculiar tem marcado a cruzada contra lideranças do PT a que o país tem assistido. Os juristas citados para embasar as condenações têm contestado fortemente a interpretação de suas teorias.

Cláus Roxin, Luigi Ferrajoli, Lenio Luiz Streck, Marcelo Andrade Cattoni de Oliveira, Alexandre Gustavo Melo Franco de Moraes Bahia, Alamiro Velludo Netto, Antônio Escrivão Filho e José Geraldo de Sousa Júnior: além de serem juristas reconhecidos, alguns renomados mundialmente, todos serviram de referência para sustentar condenações de lideranças do PT por juízes e parlamentares brasileiros nos últimos anos; e todos eles argumentaram em seguida que suas teses foram mal interpretadas e aplicadas erroneamente.

Confira:

Criador da 'Teoria do Domínio do Fato' repreende ministros do STF por mau uso

(...) ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) citaram a teoria do ‘domínio do fato’ do jurista alemão Claus Roxin, 81. Conforme a teoria, o autor não é só quem executa o crime, mas quem tem o poder de decidir sua realização e faz o planejamento estratégico para que ele aconteça. Esse foi um dos fundamentos usados por Joaquim Barbosa na condenação do ex-ministro José Dirceu. Roxin, porém, enfatizou que essa decisão precisa ser provada e que indícios não são suficientes para uma condenação.

https://www.pragmatismopolitico.com.br/2012/11/criador-da-teoria-dominio-fato-repreende-ministros-stf-por-mau-uso.html

Autores que embasam relatório a favor do impeachment dizem que processo é inconstitucional

Juristas citados pelo relator do processo no Senado Federal, do senador Antonio Anastasia (PSDB), para embasar e confirmar a legalidade do impeachment, dizem que o relator Anastasia interpretou o texto indevidamente e que o processo de impeachment é inconstitucional.

http://cartacampinas.com.br/2016/05/inconstitucional-autores-que-embasam-relatorio-a-favor-do-impeachment-dizem-que-processo-e-insconstitucional/

Luigi Ferrajoli, jurista de reputação mundial, condena abusos da Lava Jato

Luigi Ferrajoli é um dos teóricos citados com bastante frequência pelos Procuradores da República e pelo Juiz Federal Sérgio Moro nos processos da Operação Lava Jato. No entanto, apesar da deferência atribuída a ele, isso não obstou duras críticas às violações cometidas no processo – “podemos notar singulares violações, como a difusão e a publicação das interceptações promovidas pelo próprio juiz instrutor e traços típicos de impedimento. (…) Esta confusão entre acusação e justiça é o primeiro traço do impedimento [de Moro]. O andamento de mão única do processo, que não tem parte contraditória e possui apenas uma pessoa que acusa e julga”.

http://justificando.cartacapital.com.br/2017/04/19/luigi-ferrajoli-jurista-de-reputacao-mundial-condena-abusos-da-lava-jato-em-palestra/

Citado por Gebran no TRF-4, jurista diz que seu texto foi "totalmente descontextualizado"

Alamiro Velludo Netto, professor Doutor de direito da USP citado por Gebran, publicou em suas redes sociais o seguinte comentário após o voto do desembargador: “O pior de tudo é ser citado no voto por meio de um texto meu totalmente descontextualizado”. No texto, o professor discorre sobre o julgamento do mensalão, em que não foi apontado ato de ofício preciso dos condenados – como ocorre no caso de Lula. Ele, no entanto, é um crítico e acredita que a lei não permite que não seja identificado ato que vincule o acusado à benesse recebida.

https://www.pragmatismopolitico.com.br/2018/01/citado-por-gebran-no-trf-4-jurista-diz-que-seu-texto-foi-totalmente-descontextualizado.html

Juristas citados por Fachin no julgamento de Lula contestam argumentos do ministro

Os juristas Antônio Escrivão Filho e José Geraldo de Sousa Júnior criticaram a citação feita pelo relator do julgamento do habeas corpus (HC) do ex-presidente Lula no STF, Edson Fachin, ao livro de sua autoria Para um debate teórico-conceitual e político sobre os direitos humanos.

https://www.brasildefato.com.br/2018/04/04/juristas-citados-por-fachin-no-julgamento-de-lula-contestam-argumentos-do-ministro/

Acrescente-se à lista o grande jurista brasileiro Afrânio Jardim, admirado por Sérgio Moro a ponto de o mesmo ter lhe dedicado texto como tributo. Inicialmente apoiador da Lava Jato, tendo trocado correspondências com Moro sobre aspectos jurídicos da operação, Jardim se tornou um contundente crítico dos métodos adotados pelo juiz de Curitiba e pelo Ministério Público Federal.

Lava Jato: criticada por um ex-aliado de Sergio Moro e alvo de contraofensiva de políticos

Há pouco mais de dois anos, Jardim começou a trocar impressões com o juiz Sergio Moro, o responsável pela operação na primeira instância. Apoiava seus atos. Elogiava a importância das apurações. Mas as últimas ações da força-tarefa fizeram com que ele rompesse com o magistrado e se tornasse um dos principais críticos dos trabalhos que estão sendo conduzidos em Curitiba. Não porque Jardim seja contrário ao combate à corrupção, mas por entender que boa parte do que tem sido feito não respeita as normas. Cita, por exemplo, a condução coercitiva de investigados, a prisão domiciliar de grandes empresários, a divulgação da gravação envolvendo os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, (...). “Não é justo o que estão fazendo”, sintetizou o especialista em conversa com o EL PAÍS por telefone.

https://brasil.elpais.com/brasil/2016/09/17/politica/1474066251_908067.html

Jurista pede para retirar artigo de Moro em livro feito em sua homenagem

"(...) restou ‘esfarrapado’ o nosso sistema processual penal acusatório, que venho procurando defender nestes trinta e sete anos de magistério. O juiz Sérgio Moro me deixou triste e decepcionado com tudo isso."

http://justificando.cartacapital.com.br/2017/05/11/jurista-pede-para-retirar-artigo-de-moro-em-livro-feito-em-sua-homenagem/

domingo, 21 de maio de 2017

PSTU e CONIC - Diretas Já ou Eleições Gerais?

A defesa de eleições gerais pelo PSTU está assumidamente ligada à negação de que houve um Golpe de Estado no processo de impeachment de Dilma. http://www.pstu.org.br/%e2%80%9cdiretas-ja%e2%80%9d-do-pt-ou-%e2%80%9celeicoes-gerais%e2%80%9d-qual-a-diferenca/

Assim, o PSTU confirma que foi e permanece favorável ao afastamento da Presidenta. O impeachment fraudulento colocou Temer à frente do Executivo e o PSDB, DEM e PPS em pastas ministeriais por mais de um ano. Além de fazer avançar uma agenda de reformas extremamente regressiva, isto já resultou no congelamento dos gastos em Educação, Saúde e Segurança Pública por duas décadas e na possibilidade de qualquer atividade ser terceirizada, precarizando as relações de trabalho. O PSTU não faz autocrítica alguma quanto a isto. Pelo contrário, considera a saída de Dilma como algo positivo.

Na verdade, a linha de pensamento do PSTU propõe a divisão e o isolamento da esquerda. Afirma que a palavra de ordem "Diretas Já" seria algo "do PT". Nessa análise sem rastro na realidade, o PSTU desconsidera que outros partidos (PCdoB, PSOL, PSB, Rede) reivindicam Diretas Já e que o PT sequer foi o primeiro partido a trazer essa proposta como solução para a crise política em que o país mergulhou desde 2014.

Falemos de um exemplo (bem) melhor.

O Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC) reconhece que houve um Golpe contra Dilma, convoca as Diretas Já para a Presidência da República, mas também quer eleições gerais para o Senado e a Câmara Federal... http://www.conic.org.br/portal/noticias/2236-declaracao-do-conic-sobre-o-atual-momento-politico-do-brasil

Bastante positivo que católicos, luteranos, anglicanos e metodistas se unam à causa das Diretas. Até religiosos são menos dogmáticos que trotskistas! De toda forma, ainda me preocupa a falta de foco.

Tem muita gente por aí achando que renovar Presidência, Câmara e Senado ainda é pouco e quer que haja novas eleições para governos estaduais, assembleias legislativas, prefeituras e câmaras de vereadores.

O PSTU ficou indeciso quanto à medida da ambição. Fala em Presidência, Congresso, Governadores e emenda com um "etc.".

Chama a atenção tanto no caso do PSTU quanto no caso da CONIC a completa falta de esclarecimento sobre que poderes seriam os garantidores da democracia em meio a esse "apocalipse" político. Quem dissolveria os governos e parlamentos e conduziria o país?

O PSTU provavelmente alimenta fantasias sobre a possibilidade de "conselhos populares" tomarem o poder e garantirem as eleições. Não vai admitir que na verdade sua proposta de uma esquerda "autêntica" e alheia a articulações políticas mais amplas dialoga mesmo é com o fascismo.

Se falta uma proposta concreta às Igrejas e à extrema-esquerda, à extrema-direita não falta. Fascistas que querem uma intervenção militar (supostamente) constitucional vem ventilando (com boatos, áudios falsos e interpretações distorcidas da Carta Magna) que o STF e as Forças Armadas poderiam exercer o papel de dissolver parlamentos e governos, para depois convocar eleições gerais.

Aos setores populares, progressistas e de esquerda que não usam viseiras, mas ainda assim simpatizam com a ideia de eleições gerais: é preciso encarar que as condições não são favoráveis sequer para a realização de eleições diretas para a Presidência. Isto por si só será muito difícil e exige que nos articulemos a amplos setores, inclusive a partidos e parlamentares que exercem mandatos no Congresso (e que não abrirão mão deles).

O motivo pelo qual precisamos de eleições diretas para a Presidência é que qualquer outra saída mantém o povo excluído da solução da crise e culmina na continuidade da agenda das reformas/demolições trabalhista e previdenciária. Os deputados e senadores em exercício foram eleitos, gostemos ou não. O caso de Temer é diferente, pois ele usurpou o poder em um ato de traição e está aplicando um programa que ninguém teria coragem de defender em uma campanha eleitoral. As classes dominantes e seus partidos, se não conseguirem manter Temer no poder, vão fazer de tudo para que sua saída seja seguida por eleições indiretas, muito mais fáceis de serem controladas.

Devemos sobretudo ter cuidado com a confusão que o inimigo tenta plantar entre nós, nos dividindo, ventilando ideias absurdas sobre a possibilidade de o Judiciário e as Forças Armadas extrapolarem suas funções constitucionais e usurparem o poder político. Os golpistas tentam nos convencer de que esta seria uma medida temporária e que logo mais a normalidade democrática seria restaurada. Pois é exatamente nisto o que a UDN de Carlos Lacerda acreditava em 1964. Ele incitou ao máximo as Forças Armadas para que destituíssem João Goulart, acreditando que logo haveria novas eleições. A Ditadura durou 21 anos, partidos e mandatos foram cassados, o próprio Carlos Lacerda se tornou exilado político e barbaridades foram cometidas contra o povo e seus lutadores.

É preciso aprender com a história para não repetirmos erros.